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A Coragem de Ser Honesto em um Mundo de Valores Invertidos

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Arthur Vinícius, o meu sobrinho e filho do coração de 16 anos, chegou ontem do colégio visivelmente perturbado. “O pessoal da minha sala vai me matar,” ele desabafou. Quando perguntei o que havia acontecido, ele contou que a professora havia aplicado a prova de matemática para um aluno com necessidades especiais antes do restante da turma. Os colegas da turma, sabendo disso, pressionaram o aluno a tirar foto do gabarito e compartilhar com eles.. Quando descobriu, Arthur contou aos professores e à coordenação da escola. Sua indignação não era apenas por causa da cola, mas pela pressão desnecessária que os colegas colocaram sobre o aluno, que só fez a prova antecipadamente por razões de saúde.

Arthur é um adolescente fora do comum. Desde a pandemia, ele trabalha na mercearia do meu pai todas as tardes e aos sábados, o dia todo. Com uma responsabilidade admirável, ele nunca precisou ser acordado para ir à escola. Até abril, quando eu trabalhava fora e viajava muito, ele se levantava às 5h da manhã para pegar o ônibus às 6h, e chegar no horário correto da aula. Há três anos, ele é o aluno número um da sala.

Ao ouvir a frase “os alunos da sala querem me matar” foi como um golpe no meu coração. Arthur realmente se tornou o alvo de desprezo da turma e eu sei bem o peso disso. Vivemos em um mundo onde os valores estão tão distorcidos que fazer o certo muitas vezes parece errado. Quem age com integridade é frequentemente perseguido e condenado por seus princípios.

Hoje, enquanto o levava para a escola, tentei explicar – mesmo sem compreender totalmente – por que as coisas são assim. Pedi a ele que mantivesse o seu espírito de justiça e integridade, mesmo sabendo o quanto isso poderia lhe custar. Disse que, independentemente do que os outros alunos disserem ou fizerem, ele deve saber que agiu corretamente e deve relatar qualquer retaliação.

Muitos de nós já enfrentaram situações semelhantes e posso garantir que não há dor maior do que a injustiça. Quando agimos com honestidade e transparência, preservamos a nossa dignidade e honra, mesmo que o mundo ao nosso redor tente nos obrigar a fazer diferente.

Como diz a letra de Nando Reis: “o mundo está ao contrário e ninguém reparou.” Aos olhos da maioria, fazer o certo é uma ameaça. E, com isso, seguimos nos escondendo, nos afastando, com a certeza de que não há mais espaço para nós neste mundo.

Ao conversar com Arthur sobre o que aconteceu, percebi que, se cada um de nós ensinar nossos filhos a agir com honestidade e a não corromper seus valores, talvez os nossos netos possam viver livremente, sem precisar decidir entre se esconder ou se corromper.

Quais valores você está ensinando ao seu filho sobre integridade, respeito, ética e coragem?

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Resposta

  1. Avatar de Fernanda Bonato Zuffi
    Fernanda Bonato Zuffi

    Realmente valores invertidos. A atitude do seu sobrinho foi muito digna. Sei das dificuldades que as crianças com inclusão enfrentam nas escolas.

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