Conectando Pessoas e Histórias

Milton + esperanza

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Eu não sou crítica de música. Nunca tive talento para tocar qualquer instrumento, sou desafinada e não aprendi sequer o que é o dó-ré-mi-fá-sol, mas vou ousar escrever um texto sobre música e sobre Milton, Elis e Esperanza.

Não sei exatamente quando Elis Regina entrou na minha vida. Eu era bem jovem, e com a chegada da internet, consegui acesso a tudo: músicas, entrevistas, shows. Elis Regina passou a ser mais do que uma cantora; tornou-se uma presença constante, uma referência de personalidade e emoção. Ouvi-la, em momentos de alegria ou tristeza, sempre me desperta o indescritível. Elis morreu um ano antes do meu nascimento e eu nunca tive a chance de vê-la no palco, mas ela é a maior.

Minha devoção por Elis é quase egoísta. Por muito tempo, não me permiti admirar outra cantora tanto quanto a admiro. Aretha Franklin, Nina Simone, Nana Caymmi, Janis Joplin — todas estão presentes nas minhas playlists, mas jamais ousei compará-las a Elis, até agora.

Milton Nascimento está no mesmo patamar que Elis. Aliás, é impossível dizer qual amo mais. Tive a sorte de assistir a dois shows do Milton. No primeiro, foi como se estivesse diante de uma entidade. Sentei na primeira fila e chorei copiosamente durante todo o show, e um pouco mais quando ele cantou “Clube da Esquina II”.

Ele, por sua vez, já disse várias vezes, em entrevistas, que Elis foi o grande amor da sua vida.

Nos últimos dias, tenho ouvido incansavelmente Esperanza Spalding. A cantora americana, vencedora de múltiplos Grammys, é uma força da natureza, com uma capacidade única de mesclar jazz, soul e elementos da música brasileira em suas composições. No último dia 9, ela lançou um trabalho magnífico ao lado de Milton.

Quando vi as primeiras postagens no Instagram do Milton, fui imediatamente conhecer o trabalho dela. E que descoberta!

A primeira música que ouvi, “I Know You Know”, do álbum de 2008, foi arrebatadora. Quem é essa mulher? Que força, que energia!

O mesmo disco, o segundo de sua carreira, abre com “Ponta de Areia”. E que ódio senti! É uma das versões mais belas que já ouvi de uma das minhas músicas favoritas.

Não, eu não estava “traindo” Elis. Mas que sorte a nossa poder testemunhar outra cantora com a mesma intensidade.

No álbum com Milton, a quarta faixa, “Outubro”, chega a doer o coração. “Vou achar um novo amor… Vou morrer só quando for.” Talvez Milton e eu tenhamos encontrado um novo amor na música, e ironicamente, o nome dela é Esperanza.

A vitalidade de um dos maiores nomes da música mundial, aos 82 anos, neste novo trabalho é inspiradora. É isso que o amor faz. O amor pela música, pela arte, e pelas emoções que a música desperta em meros mortais como eu.

Em cada nota, em cada verso, percebo que a música tem o poder de nos conectar com algo maior — uma força que transcende o tempo, o espaço, e até mesmo as nossas próprias emoções. E, assim, sigo admirando a música, que sempre nos surpreende com novos amores e eternas paixões.

Milton Nascimento e Esperanza Spalding (Reprodução)