Conectando Pessoas e Histórias

Um Olhar Feminino

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Por que as Relações Fracassam com a Convivência Diária

Não é preciso ter um diploma de Harvard para entender por que tantas relações fracassam após um tempo de convivência diária. Aquela pessoa encantadora, com quem você adorava passar horas, deixa de existir.

O lado negativo é que os traços de admiração que você tinha podem desaparecer como poeira ao vento. No entanto, o lado positivo é que você pode descobrir novas qualidades e reinventar a sua admiração. Com isso, a relação pode alcançar um novo nível de maturidade que vale muito a pena.

Hoje, quero compartilhar uma experiência pessoal que trouxe desconforto, mas também valiosos insights. Sempre acreditei que a admiração é o alicerce de qualquer relação – seja amorosa, amigável ou profissional. A admiração é o que nos conecta aos nossos pais, por exemplo, e é ela que determina a durabilidade de qualquer relacionamento. No casamento, ela é imprescindível.

Eu sou machista. Sim, defendo que nós, mulheres, podemos ir mais longe se abandonarmos as comparações com os homens. Precisamos impor nosso próprio respeito, reconhecer nossas limitações físicas e fragilidades, que estão mais relacionadas às condições fisiológicas do que ao gênero.

Mas a rotina de uma mulher – profissional, mãe, filha, esposa – não é fácil. O mundo é cruel com a mulher! Na maternidade, do primeiro “bom dia” do filho ao “boa noite, mãe”, parece que tudo é responsabilidade das mulheres. Desde a preocupação com a escola, alimentação, roupa limpa, até o dentista, médico e sanidade emocional. Mesmo não sendo mãe, sei que esta é a realidade de muitas famílias.

Além de mãe, a mulher é profissional. Tem cobranças por resultados e desafios no trabalho que precisa enfrentar com agilidade. A mulher também é filha, com pais que demandam assistência e atenção, uma retribuição natural da vida. E como esposa, ela se preocupa quase maternalmente com o desempenho do marido no trabalho, com a roupa limpa e outros detalhes casuais.

Mas e daí? É assim.

Ao viver a experiência de passar duas semanas com meus enteados, percebi que temos muito pelo que lutar. São direitos negligenciados, como recusar tarefas que não devem ser apenas das mulheres, sentir-se cuidada e, sobretudo, valorizada por nos desdobrarmos para “dar conta de tudo”. É aí que o casamento acaba.

A relação entre um casal com filhos está diretamente sustentada pela admiração que um sente pelo outro em seus papéis de mãe e pai. Para as mulheres, isso pesa ainda mais na relação. Elas podem passar a vida inteira ao lado de péssimos maridos, desde que sejam bons pais para os seus filhos. Já os homens, por mais que considerem o desempenho materno importante, não sustentam um casamento em que a mulher é melhor mãe do que esposa.

Senti na pele como é dolorido e solitário o papel da mãe dentro de casa. Parece que os filhos foram gerados apenas pelo óvulo. Nós deixamos de ir ao salão, de tomar um café com uma amiga, porque o caçula tem tarefa de casa, mas o pai, geralmente, jamais deixará de jogar futebol com os amigos por isso. E a admiração vai se esvaindo.

É fácil para um homem admirar a colega de trabalho bem-humorada, com unhas bem feitas, cabelo vibrante, que faz pilates pela manhã e vai ao show sertanejo no fim de semana. É ainda mais fácil compará-la ao mau humor da esposa, que acordou às 5h, preparou o café da manhã do filho mais velho, passou no mercado, tomou banho, foi trabalhar, resolveu problemas profissionais, almoçou correndo, buscou o mais velho na escola, deixou o caçula, retornou ao trabalho, saiu às 17h10 para pegar o caçula, passou na padaria, lanchou com os filhos, preparou o jantar, fez aula de inglês, lavou roupa, levou o cachorro para passear e desmaiou após 10 minutos de televisão.

A mulher espera cumplicidade, apoio e colaboração na relação. Por que temos que lavar os pratos enquanto eles assistem ao jornal? Por que os compromissos profissionais deles impedem de assistir a uma consulta do filho, enquanto nosso trabalho é desvalorizado porque precisamos nos reorganizar para que ambos os compromissos aconteçam?

Neste estágio, a exaustão já não permite reflexão, mas a dor existe. Neste estágio, o casamento já está fracassado, por mais que a mulher ainda não saiba disso. Porque o homem que escolhemos para formar uma família só assume o papel de provedor. E aí, eu pergunto: qual é o peso do dinheiro que se coloca dentro de uma casa?

Neste estágio, o amor já foi embora. Porque nós não admiramos aquele homem, nem como pai, nem como companheiro. Assim como ser apenas mulher não basta para uma sociedade, precisamos assumir de vez que ter apenas um homem é pouco demais para nós.

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